SAÚDE: Vacina para Covid-19 da Moderna tem resultados ‘promissores’ em estudo da fase 1

Foto: Dado Ruvic – 10.abr.2020 / Reuters

A vacina para Covid-19 desenvolvida pela companhia de biotecnologia Moderna, em parceria com o NIH (Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos), induziu respostas imunes em todos os voluntários que a receberam na fase 1 do estudo.

Esses resultados preliminares, publicados no New England Journal of Medicine nesta terça-feira (14), mostram que a vacina conseguiu desencadear uma resposta imune com efeitos colaterais leves —fadiga, calafrios, dor de cabeça, muscular e no local da injeção—, tornando-se a primeira candidata americana a vacina a publicar resultados em uma revista médica revisada por pares.

É esperado que essa vacina comece ainda neste mês uma ampla fase 3 de testes clínicos —a última fase antes que os órgãos reguladores avaliem se a vacina deve ser disponibilizada.

A Moderna afirmou em uma nota que, se tudo for bem nos próximos estudos, “a companhia continua dentro do cronograma para conseguir entregar aproximadamente 500 milhões de doses por ano, e possivelmente até 1 bilhão de doses anuais a partir de 2021”.

Na fase 1 do estudo, “o objetivo era observar a segurança e então as respostas imunes”, disse Lisa Jackson, pesquisadora sênior no Instituto de Pesquisa em Saúde Kaiser Permanente de Washington, em Seattle (EUA), que esteve envolvida com a pesquisa. Dados preliminares do estudo já haviam sido divulgados em maio.

“Pensamos que as respostas imunes parecem promissoras, mas não sabemos se os níveis que estamos vendo realmente protegeriam contra a infecção. É muito difícil saber até que se faça o teste real de eficácia”, disse. “Então estamos fornecendo as bases para o teste que dará essas respostas”.

A Moderna espera começar o maior estudo da companhia da sua vacina potencial, chamada de mRNA-1237, em 27 de julho, de acordo com detalhes divulgados separadamente nesta terça. É previsto que seja a primeira nos Estados Unidos a começar a fase 3 dos testes.

Até o momento, o novo estudo mostrou “informações rapidamente que poderiam ser usadas para determinar que dose usar nas fases 2 e 3 dos testes. Essa é uma decisão crítica a se fazer, e ter essa informação disponível em tão pouco tempo após o início dos testes clínicos é bastante notável”, disse Jackson.

Na fase 2, o estudo clínico é expandido e a vacina é dada a pessoas que têm características —como idade e estado de saúde— parecidos com o do público esperado para a vacina, de acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos). Na fase 3, a vacina é ministrada a milhares de pessoas e a eficácia e segurança são avaliadas.

‘Queremos saber se vacina é segura’

A fase 1 do estudo incluiu 45 adultos saudáveis, de 18 a 55 anos, que receberam duas doses da mRNA-1237 com 28 dias de diferença. Alguns dos voluntários se inscreveram no teste no Kaiser Permanente em Seattle e outros na Universidade Emory em Atlanta.

Os voluntários foram separados em grupos que receberam a vacina em doses de 25, 100 ou 250 microgramas. A primeira vacina foi aplicada entre 16 de março e 14 de abril.

“A primeira dose meio que prepara o sistema imunológico, é chamada de pré-tratamento”, disse Jackson. “Então quando você administra a mesma coisa novamente, há uma resposta ampliada. Então não pensamos que uma dose seria suficiente para chegar ao nível de resposta que queríamos ver”.

Os pesquisadores não encontraram nenhuma preocupação de segurança que limitasse o teste após os voluntários receberem as duas doses da vacina, mas houve efeitos colaterais leves e moderados, como dor no local da injeção, e eles aumentaram quanto maior fosse a dose da vacina.

Após a primeira dose, eventos adversos foram reportados por cinco participantes no grupo de 25 microgramas, 10 no de 100 microgramas e oito no de 250 microgramas. Após a segunda dose, os efeitos ocorreram em sete dos 13 participantes do grupo de 25 microgramas, todos os 15 do de 100 microgramas e todos os 14 do de 250 microgramas, com três desses relatando “um ou mais efeitos severos”, de acordo com o estudo.

Os efeitos colaterais sistêmicos mais comuns após a segunda dose da dose de 100 microgramas foram fadiga (entre 80% dos participantes); calafrios (80%); dores de cabeça (60%); mialgia ou dor muscular (53%), todos temporários e de intensidade de leve a moderada, afirmou o comunicado da Moderna.

Os dados do estudo também mostratam que a vacina induziu a produção de anticorpos, as proteínas que o corpo faz para lutar contra infecções.

Especificamente, todos os participantes desenvolveram anticorpos que neutralizam o vírus em níveis parecidos aos vistos em pessoas que naturalmente se recuperaram da Covid-19, de acordo com o estudo. Anticorpos neutralizantes se ligam ao vírus, impedindo que ele ataque as células humanas.

Os pesquisadores mediram dois tipo de respostas imunes, disse Jackson.

“Esses dois tipos de respostas se apoiam. Sabemos que os anticorpos estão sendo produzidos e parece que há uma função após a vacinação que bloqueia a habilidade do vírus de entrar nas células. Então, ele neutraliza a atividade do vírus”, explicou ela.

No entanto, é necessário mais pesquisa.

“O que realmente queremos saber? Queremos saber se a vacina é segura e efetiva”, disse Paul Offit, membro do painel do NIH que está desenvolvendo diretrizes para estudos de vacina nos Estados Unidos e que não esteve envolvido nesse novo estudo.

Com a pesquisa, “sabemos que é segura em 45 pessoas, o que não é o mesmo em 20 milhões ou 200 milhões que vão recebê-la aqui nos Estados Unidos”, disse Offit, que também é o diretor do Centro de Educação de Vacinas e médico na Divisão de Doenças Infecciosas no Hospital Infantil da Filadélfia.

“Então o que sabemos é que não tem um problema muito comum de efeitos colaterais”, disse. “Mas não sabemos nada sobre sua eficácia, que é o que realmente queremos saber. Essa vacina funcionará? O único jeito de saber é fazer a chamada fase 3 dos testes”.

Testes amplos no fim de julho

Resultados da fase 1 do estudo podem guiar como será o estudo na fase 3.

“Esses dados da fase 1 demonstram que a vacinação com a mRNA-1273 consegue uma resposta imune robusta em todos os níveis de dose e claramente apoiam a escolha de 100 microgramas em um regime de pré-tratamento e ampliação como a dose ideal para a fase 3”, disse Tal Zaks, diretor-chefe médico da Moderna, no comunicado desta terça.

“Estamos ansiosos para começar a fase 3 do estudo da mRNA-1273 para demonstrar a habilidade da nossa vaicna de reduzir significantemente o risco da doença Covid-19′, disse ele.

Para a fase 3 do estudo, os pesquisadores planejam incluir 30 mil participantes adultos, incluindo pessoas cujas localizações ou circunstâncias os coloquem em alto risco para infecção. Um grupo será injetado com 100 microgramas da vacina no primeiro dia e novamente no dia 29. Um segundo grupo será injetado com duas doses de placebo para comparação.

Catorze dias após os participantes receberem a segunda dose, os pesquisadores vão monitorar se eles desenvolvem a Covid-19 por dois anos.

O estudo será conduzido em 87 locais nos Estados Unidos.

A potencial vacina da Moderna é uma das 23 em fase de testes clínicos ao redor do mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Em geral, “a segurança e dados de imunogenicidade nesse relatório preliminar são promissores e apoiam a continuidade do desenvolvimento dessa vacina. Contudo, precisamos estar cientes da complexidade do desenvolvimento de uma vacina e do trabalho que ainda precisa ser feito antes que vacinas para Covid-19 estejam amplamente disponíveis”, escreveu Penny Heaton, diretora-executiva da Fundação Bill e Melinda Gates em um editorial que acompanha o estudo da fase 1 no New England Journal of Medicine.

“Acelerar o desenvolvimento das potenciais vacinas de Covid-19 além da fase 1 depende do monitoramento contínuo e paralelo das atividades e plenos recursos. O mundo testemunhou agora a compressão de seis anos de trabalho em seis meses”, disse Heaton. “O multiverso da vacina será capaz de fazer isso novamente, levando à realidade de uma vacina segura e eficaz para a Covid-19 para os mais vulneráveis nos próximos seis meses?” #Cotidiano

CNN BRASIL

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