RAINHA DO POP: Novo single de Madonna tem calor de 2019

LEONARDO LICHOTE

O discurso de Emma González irrompe em primeiro plano , sobre discretas notas de sintetizadores. Hoje com 20 anos, a jovem ativista é uma sobrevivente do massacre na Marjory Stoneman Douglas High School, na Flórida, onde 17 pessoas foram assassinadas em fevereiro de 2018. Com a voz embargada, Emma discursa: ” (eles dizem) que nós, crianças, não sabemos do que estamos falando, que somos jovens demais para entender como o governo funciona. Nós dizemos que  isso é besteira”.

Sua última palavra (em inglês, “BS”, abreviação de “bullshit”) ecoa por três segundos. Só então entra a voz de Madonna em “I rise”, single da cantora lançado nesta sexta-feira. A música é a segunda de seu próximo álbum, “Madame X”, a ser divulgada — a primeira foi “Medellín”, em dueto com Maluma.

O discurso sublinha o teor político de uma canção que fala em resistência. Alguns versos, em tradução livre: “Morri mil vezes/ Consegui sobreviver/ Eu não posso quebrar agora/ Eu não posso aceitar isso/ Eu me levanto/ Eu me levanto/ Eu me levanto acima disso”. As palavras de Emma foram retiradas de um discurso no qual ela ataca a política armamentista do governo Trump e o responsabiliza pelo massacre.

Madonna sempre esteve interessada no hoje. Ou melhor, no mínimo no hoje — em muitos momentos de sua carreira, seu olhar e sua música miraram o amanhã. Ao trazer o ativismo jovem para a temática de sua canção (e mesmo para sua estrutura, ao samplear o discurso de Emma), Madonna está novamente fazendo esse movimento. Ela se aproxima do calor de 2019.

Afinal, essa presença declaradamente política — entendendo o termo como algo que engloba sexo, comportamento, responsabilidade ambiental e problemas humanitários — da juventude não se dava da maneira como vemos hoje desde 1968. Menos que passar o seu bastão, a cantora recebe o bastão da mão dos meninos e meninas, assumindo-o também para si — com a legitimidade que seus 60 anos, 40 deles como “ativista do (e no) pop”, concedem a ela.

Musicalmente, “I rise” também parte do mesmo princípio de diáologo com o espírito (pop) de seu tempo. Downtempo , com timbres e camadas de voz que poderiam estar numa canção de uma cantora como Halsey ou Ariana Grande , “I rise” é não por acaso parte de um disco que tem a presença, em “feats.”, de artistas ascendentes como o já citado Maluma, e a brasileira Anitta.

Não é a faixa mais inspirada da carreira da cantora. E é bastante provável que “Madame X” não venha a ser seu disco mais inspirado. Mas definitivamente ela permanece relevante e com os pés fincados em 2019. Claro, sempre podem aparecer os que a acusam de oportunismo, roubo de “protagonismo” ou de “lugar de fala” . A resposta vem na diluição das palavras de Emma: “We call it: ‘BS'”. #Cultura #Música

O GLOBO

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