O PERIGO DA TERCEIRIZAÇÃO NO RÁDIO: DE COMPLEMENTO À OPÇÃO

Imagem: Pixabay

Por IKEDA

A terceirização de serviços é uma realidade no Brasil. Em alguns setores, ela até funciona e oferece vantagens. Em outros, no entanto, a desvantagem é certa. No rádio, por exemplo, se for sem critérios, a terceirização de horários pode comprometer uma programação e, consequentemente, a audiência. E quem aposta em conteúdo duvidoso, assume esse risco.

Ocorre que terceirizar a programação de rádios também é uma realidade no país, sobretudo no interior. Na minha cidade, por exemplo, que tem quase 60 mil habitantes e polariza uma região da Paraíba, as quatro emissoras de rádio comerciais têm espaços terceirizados na grade – a maioria, programas de interesse político, além de ‘horários religiosos’ e de empresas.

Outra questão que está ligada com a terceirização no setor é a falta de identidade nos programas e de qualificação profissional de seus produtores e apresentadores. Os terceirizados que tenho escutado com mais frequência, geralmente diferem, completamente, do segmento da rádio e vão ao ar sem a mínima produção e preocupação com o conteúdo – é o pagou, falou.

Não bastasse o desalinhamento dos programas com o segmento da estação, fator importante para construção e manutenção de identidade, também é perceptível a ausência de radialistas profissionais para estarem à frente dos horários terceirizados – aqui em Guarabira (PB), a maioria terceirizada não tem habilitação profissional, nem qualificação para atuar em programa de rádio.

E é, justamente, aí onde mora o perigo: na soma de um programa fora do segmento da rádio (pop, jovem, popular, adulta, por exemplo) e desalinhado com a programação; com a condução direta de alguém sem a devida capacitação ou orientação para estar no ar. E isso acontece! O resultado dessa soma, quase sempre, gera crises – de credibilidade, por exemplo.

O que se ouve nos corredores é que programas terceirizados trazem retorno financeiro ‘imediato’. Nada contra a terceirização, mas a questão é até que ponto ela vale a pena – considerando que se o conteúdo não agradar a audiência, não haverá ‘retorno fácil’; e sem retorno para o anunciante, pela falta de audiência, o contrato é encerrado, e, dificilmente, será renovado.

Com a desculpa de ‘cortar custos’, tem radiodifusor dispensando profissionais, abrindo mão de talentos e de gente qualificada, para vender os espaços da grade, sem se dar conta de que, no rádio, a terceirização sem critérios não é sustentável, pois além de não prestar um serviço relevante, muitas vezes não atende às expectativas da audiência e sim a interesses individuais.

Em tempos de influência digital, eu não sou contra dar oportunidades a novos profissionais pela terceirização, por exemplo – sou completamente a favor e defendo isso (!) -, mas entendo que capacitação é fundamental para a execução de qualquer ofício, inclusive para fazer rádio profissional – mesmo sendo de forma terceirizada, pela qual alguns programas fazem sucesso.

Eu digo sempre aos colegas, principalmente aos coordenadores: busquem ser como um técnico de futebol, que sabe quando o time vai bem e quando não vai – porque é possível que um time esteja ganhando e jogando mal ao mesmo tempo. No rádio também é assim. E ignorar o modo de fazer e o conteúdo pode custar caro depois.

Cada caso é um caso, eu sei… Contudo, no geral, eu não recomendo e nem aposto em terceirização sem critérios – sem antes considerar que um conteúdo tenha a ver com o segmento da rádio, com o horário, com o público e que tenha uma proposta clara. Terceirização no rádio, portanto, deveria ser um complemento, não a opção. #Opinião #Comunicação #Mídia

Texto originalmente publicano pelo IV PODER, no Orelo

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