O PAPEL CONSTITUCIONAL DO JORNALISMO

Recentemente, fui alvo de uma verdadeira inundação de compartilhamentos político-partidários em minha caixa de mensagens privadas no WhatsApp. Contudo, ao invés de receber informações verdadeiramente políticas, no sentido de discutir políticas públicas, deparei-me com conteúdo que se distanciava desse propósito. Quando menciono “verdadeiramente política”, refiro-me, prioritariamente, às discussões sobre políticas públicas – um interesse que compartilho como cidadão brasileiro, contribuinte (com impostos considerados entre os mais altos do mundo) e que, por vezes, percebe uma discrepância entre o que é investido e o retorno proporcionado.

Essa perspectiva ganha ainda mais relevância para mim como jornalista, já que anseio por informações que vão além do espectro partidário e se concentrem no que realmente importa para a comunidade. Como pagador de impostos, busco entender como as políticas públicas impactam meu cotidiano e como contribuem para o desenvolvimento e bem-estar da sociedade. Afinal, é a partir dessas políticas que se molda a qualidade de vida dos cidadãos, e é isso que realmente deveria ocupar o centro das discussões políticas. Sendo assim, deixo abaixo, um artigo que escrevi sobre como o nosso jornalismo está sendo apenas um mero setor de merchandising político.

O papel constitucional do jornalismo

O pensamento de autor desconhecido que afirma que “jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade” reflete uma preocupação crescente em relação ao estado atual do jornalismo, particularmente em contextos locais como o interior. Observa-se uma transformação do jornalismo, que, para muitos, parece ter se tornado uma extensão das Assessorias de Comunicação (Ascoms) de políticos locais, tornando-se, assim, uma mera página de publicidade.

No contexto do ensino superior em Comunicação, com foco em Jornalismo, torna-se evidente o papel social crucial desempenhado por esses profissionais na sociedade. Eles são encarregados de lidar com a informação “bruta”, sendo os primeiros a entrarem em contato com dados que requerem um processo de anamnese, ou, de forma mais acessível, uma triagem. Essa etapa implica em compreender a mensagem a ser transmitida, o público-alvo, o meio de veiculação e a abordagem mais adequada. Contudo, a constatação é que, na prática, muitas vezes nos deparamos com uma abordagem simplista, caracterizada pelo mero “Ctrl C – Ctrl V”, dificultando a comunicação eficaz e resultando em ruídos na transmissão da informação.

A essência do jornalismo está em proporcionar diferentes abordagens e linguagens para uma mesma notícia, considerando os distintos meios de consumo, como rádio, internet (redes sociais, sites, etc.) e televisão. Contudo, a realidade evidencia uma homogeneização na divulgação, o que compromete a diversidade de perspectivas necessária para uma compreensão completa e abrangente.

Diante dessas reflexões, é oportuno recordar o Artigo 5º, Inciso IV, da Constituição de 1988, que assegura a liberdade de manifestação do pensamento, mas veda o anonimato. Esta norma constitucional, integrante das chamadas liberdades públicas, é um dos pilares inalienáveis da cidadania e da personalidade. É necessário, portanto, que o jornalismo atue como um guardião desses princípios constitucionais, preservando sua independência e função primordial de informar de maneira imparcial e plural, respeitando a diversidade de vozes na sociedade. Nesse sentido, a promoção da transparência e da pluralidade torna-se não apenas uma responsabilidade profissional, mas uma contribuição vital para a saúde democrática de uma nação.

Atualmente, observa-se uma crescente perda da essência do jornalismo investigativo. Este tipo de jornalismo, que tradicionalmente se destaca pela meticulosa busca por dados e fontes confiáveis, pelo constante embate entre verdade e mentira, encontra sua representação na teoria do Gatekeeper. Essa teoria sugere que os eventos só se tornam notícia após passarem por um filtro, conhecido como “portão” (gate), cujo processo é determinado por um “porteiro” (gatekeeper). Nesse contexto, os jornalistas desempenham o papel crucial de serem os porteiros responsáveis por fazer com que a informação alcance quem verdadeiramente se interessa por ela.

Em 2024, ano das eleições municipais na Paraíba, onde os cidadãos escolherão os prefeitos e vereadores dos 223 municípios, é imperativo repensar o papel do jornalismo. Em vez de serem meros porta-vozes de jogos políticos que visam apenas os interesses dos próprios políticos, os jornalistas têm o dever de apresentar aos cidadãos quem são esses candidatos. Isso inclui não apenas suas posturas políticas, mas também suas ações, pensamentos e compromissos com a população.

No lugar de focar em alianças políticas entre candidatos, que muitas vezes resultam apenas em benefícios pessoais, os jornalistas devem direcionar a atenção para as propostas concretas desses políticos. Importa mais compreender as políticas públicas que integram suas propostas, avaliando como estas impactarão diretamente na vida dos cidadãos. A preocupação central não deve ser se o político A continua apoiando B, ou se C se unirá a ambos, pois essas questões refletem apenas em números e interesses pessoais.

O verdadeiro interesse está em compreender como as escolhas feitas pelos cidadãos nas eleições afetarão aspectos cruciais de suas vidas, como o aumento ou redução de impostos, a qualidade do saneamento básico e outras políticas públicas que moldam a existência no estado. O eleitor precisa entender que sua escolha é um ato de grande relevância, determinando os rumos de questões que impactam diretamente na sua qualidade de vida. Portanto, é dever dos jornalistas atuarem como guardiões dessa compreensão, fornecendo informações relevantes e críticas que capacitem os cidadãos a fazerem escolhas informadas e conscientes. #Opinião

Colaboração de Jefferson Cavalcante, Jornalista, estudante de Direito e Pós-graduado em Direito do Consumidor

 

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