OPINIÃO: E você, professor…

DANIELE SOUSA

Depois que a Pandemia de Covid-19 envolveu os quatro cantos do planeta, todos nós precisamos configurar muitas coisas na nossa rotina/vida. E não foi diferente com os profissionais da educação, principalmente com os professores. Eu sou suspeita a falar, mas falo com propriedade, pois sou professora há nove anos e jamais imaginei ficar quase dois anos dando aulas à distância. E foi diante desse tipo de desafio que nós docentes começamos a lidar com uma enxurrada de informações, exigências medos e, ao mesmo tempo, da descoberta de novas formas de planejamento do ensino. E o professor passou a “dançar conforme a música” do ensino remoto emergencial.

Ao mesmo tempo em que uma pandemia começou a assolar a humanidade, o professor começou a viver na dúvida do que fazer para conseguir passar seu conteúdo para os alunos da melhor forma possível, sem saber como este seria recebido do outro lado da tela do celular, computador ou das páginas das atividades impressas que muitos alunos recebem. Além do desafio de ensinar, na maioria das vezes sem ver o aluno, fazendo da sua casa a nova sala de aula, a luta pela vida também passou a ser mais um obstáculo diário na vida do docente. É como se nós tivéssemos levado nossa cozinha, nosso quarto, nosso lazer… tudo para dentro da escola. E vice versa.

A frase “Somos eternos aprendizes” nunca foi tão bem empregada quanto em tempos de pandemia, pois o professor precisou se reinventar, conhecer e aprender sobre o uso das novas tecnologias como metodologia para o ensino aprendizagem. Para ser sincera, a sensação inicial foi a de que estávamos começando na profissão, cheios de dúvidas sobre qual caminho seguir. Não que eu esteja sendo negativa, quanto à realidade da educação em tempos de isolamento social. Não é isso. Lógico que tivemos coisas positivas dentro de todo esse vendaval. O uso de meios diversificados para desenvolver um conteúdo com os alunos, aplicativos que não conhecíamos, o desafio de superar o medo das câmeras (digo por mim, rsrsrsr) para gravar uma vídeo-aula ou para aparecer em uma videoconferência, usar a criatividade para chamar a atenção dos alunos, enfim, conhecer melhor o próprio eu, como suas limitações e ter a percepção sobre até que ponto o copo das nossas capacidade é capaz de suportar as gotas de longa data e como reagir diante daquela que transborda a nossa capacidade.

Lógico que ninguém tem culpa do que está acontecendo, mas como nem Jesus agradou a todos, quem é o professor diante disso tudo. A sobrecarga de trabalho não é suficiente para que os alunos aprendam como deveriam, afinal, estamos longe deles. Eu, por exemplo, tenho alunos que conheço só pelo nome, nunca os vi até o momento. E isso é triste, muito triste. Como tudo na vida é relativo, a incompreensão de alguns pais é algo extremamente desanimador, visto que, o único culpado pelos alunos não estarem aprendendo como deveriam é o vírus da Covid-19. Sim, ele mesmo, pois nem todo pai ou mãe tem escolaridade suficiente para ajudar nas atividades que o filho recebe. E nem por isso, nós professores temos culpa disso.

Os alunos? Eles também estão passando por momentos complicados, muitos nem acesso à internet têm ou um celular com capacidade mínima para aguentar a quantidade de informações que as aulas remotas propõem. Cito-os aqui, porque todos os envolvidos no processo têm a sua parcela de dificuldades, mas tal questão ficará para um próximo momento.

Nos cobramos, queremos dar conta de tudo (sem poder, é claro!). E como resultado, ficamos doentes físico e mentalmente. Nos sentimos culpados e inseguros sobre, por exemplo, se as atividades estão muito complexas para a realidade do aluno, ou se elaboramos algo mais simples e os pais ou a própria escola avalia como um recurso que duvida da capacidade do discente, retardando seu processo de protagonismo e interpretação. É complicado fazer várias coisas ao mesmo tempo. É complicado carregar muito peso por longos períodos.

Aí, eu pergunto: E você, professor… O que tem feito sobre você, para você? Independente de como estejamos, caríssimos colegas professores, que reflitamos se estamos dando o nosso melhor, ciente das nossas verdades como profissionais, conscientes da nossa capacidade e limites diante da realidade atual. Estamos vivos. Nem tudo é nossa culpa. Não podemos resolver o problema que a educação está passando. As críticas vão surgir, mas que tenhamos o controle emocional suficiente para conseguir vivenciar tudo isso da melhor forma possível. Sem saúde mental, os respingos do cansaço atingem tudo o que estiver mais próximo. #Opinião

*Daniele Souza é professora do Fundamental II e graduanda em Jornalismo

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