Desde meus 10 anos de idade, frequento uma casa espírita. Em uma ocasião, ouvi uma conversa entre os dirigentes sobre o período eleitoral que se aproximava. Não me recordo se era para eleições municipais ou presidenciais. Curioso, perguntei por que não tínhamos um espírita como vereador ou deputado. A resposta me deixou atônito quando a dirigente, muito perspicaz, respondeu:
“Temos sim, meu filho. Há pessoas que ocupam esses cargos, mas não divulgam que são espíritas. Por vários motivos. E o principal é que não precisamos usar nossa visão religiosa para alcançar reconhecimento ou cargo público.”
Eu argumentei: “Mas seria bom que tivéssemos mais espíritas em cargos públicos para ajudarmos o próximo, como pregamos aqui na casa.”
A sua resposta me fez refletir até hoje, com meus 32 anos. Ela disse: “Quando queremos ajudar, o fazemos com o pouco e com o que temos à disposição. Não é preciso ter muito. Basta querer fazer.”
A decisão de alguns espíritas em não divulgar a doutrina enquanto ocupam cargos públicos reflete uma postura de discrição e humildade. Essa atitude pode ser vista como uma forma de evitar a instrumentalização da religião para fins políticos, preservando a essência das práticas e valores espíritas. Além disso, ao não fazerem uso explícito de doutrina para fins eleitorais, esses indivíduos mostram que o compromisso com a ética e a moralidade transcende rótulos religiosos.
A afirmação da dirigente de que “quando queremos ajudar, o fazemos com o pouco e com o que temos à disposição” é uma lição valiosa. Ela nos lembra que a verdadeira ajuda ao próximo não está necessariamente ligada à quantidade de recursos ou ao status que possuímos, mas à nossa intenção e ação. Esse princípio é coerente com a filosofia espírita, que valoriza a caridade e o altruísmo.
O motivo de expor aqui essa conversa que me marcou até hoje é o que tenho observado pelas redes sociais. Pessoas que começam projetos filantrópicos, projetos lindos, mas que às vezes servem apenas para autopromoção focada em uma futura campanha eleitoral, acabando com toda a beleza da idealização. Como citado no livro de Mateus 6:3: “Mas quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita.” Para os adeptos da leitura da Bíblia, a principal mensagem passada compreende três pontos importantes:
Caridade discreta: O ato de ajudar os necessitados deve ser motivado pelo desejo sincero de fazer o bem, e não para obter aprovação social ou vanglória.
Humildade e sinceridade: A verdadeira caridade não busca recompensas externas, mas é uma expressão genuína de compaixão e amor ao próximo.
Pureza de intenção: A doação deve ser tão discreta que até mesmo o próprio doador não deve ficar se vangloriando ou refletindo demais sobre seu ato.
A presença discreta de espíritas em cargos públicos e a ênfase na ajuda desinteressada reforçam a ideia de que o verdadeiro serviço ao próximo transcende a política e os títulos. A reflexão sobre essa postura nos convida a agir de forma ética e compassiva em todas as esferas da vida, lembrando sempre que a verdadeira transformação começa com pequenas ações e intenções genuínas.
Em tempos onde a exposição e a autopromoção parecem ser a norma, é essencial resgatar a pureza de intenção e a humildade na prática da caridade, seja ela realizada por indivíduos ou instituições. #Opinião
Colaboração de Jefferson Cavalcante, Jornalista, estudante de Direito e Pós-graduado em Direito do Consumidor